A Sombra que foi Tocada

Sabe aquela palavra ou ação do outro que te atinge com uma grande intensidade emocional negativa, mas que se for reparar de fato o real contexto não seria para tudo isso? Será que toda essa intensidade na forma de que foi atingindo seria a real intenção do outro ou há algo que está além do que realmente ocorreu neste momento?
Bem, vamos compreender primeiramente que aqui não estou generalizando uma situação, mas o que irei falar abrange muitos casos e é de se pensar; até se você estiver passando por algo semelhante, este texto te trará uma grande reflexão, clareando muitas coisas.
Há muitos momentos em que uma simples palavra ou uma simples ação que vem do outro, diretamente ou indiretamente, atinge a si de tal forma que podemos ilustrar como uma faca que rasga todo o interior, perfurando agressivamente o Ego. Mas, se formos justos e estarmos abertos para uma reflexão, notaremos em um momento que a real situação em relação a posição do outro não foi tão intensa quanto as emoções que borbulharam loucamente lá no íntimo e que aflorou a mágoa e a dor.
Podemos até em alguns momentos assumirmos para nós que não era condizente a intensidade das emoções que foram vivenciadas no momento em que palavras ou ações foram lançadas. E quando nos afastamos da situação, tendo um olhar mais amplo, ocorre geralmente o arrependimento por uma atitude agressiva que pode ter vindo após o suposto "ataque" do outro.
Mas por que isso ocorre?
Temos uma vasta vivência e experiência que atravessaram a nossa infância até os dias de hoje. Muitas situações são marcantes e que ficaram gravadas em nosso íntimo; talvez feridas que estão guardadas, mas que basta uma chave certa para despertá-la e gerar novamente toda a sensação de uma situação passada, só que desta vez mais intensa e disfarçada. E por esta forma, há falta de compreensão das emoções que estão brotando no devido momento, não obtendo o real conhecimento da fonte das mesmas. Isso faz com que ocorra também a própria defesa, ou seja, a posição de contra-ataque ou de recuo que se é tomada no momento que devidamente despertou a ferida.
Contudo, vamos refletir que nem todas as palavras e ações do outro, mesmo que supostamente feriu, são para ferir. Por isso a necessidade de se conhecer e também de estar aberto para compreender suas emoções, quando e porque estas são despertadas, mesmo sem a intenção daquele que as despertou. É importante entender que há feridas em cada um de nós e que estas é de nossa obrigação cuidar e curá-las.
Vamos ter a visão do outro como aquele que apenas foi uma via para que as vivências dolorosas do passado, e que de certa forma foram “esquecidas”, surgissem a margem. Sendo então uma oportunidade que lhe foi dado para tocar nas feridas e compreender o seu despertar. É neste momento que estas feridas são resgatadas e podem ser vivenciadas e significadas com o olhar mais maduro do que quando a mesma situação foi vivenciada.
Por que devo achar que despertar uma ferida é bom?
Muitas vezes aquilo que são feridas vêm a tona diversas vezes e em diversas situações no nosso cotidiano, talvez de forma sutil. Isso faz com que uma real situação não seja vista de forma lógica e verdadeira, ocasionando uma fonte sabotadora e de bloqueios que estão disfarçados e presentes em nossas atitudes e escolhas sem ao menos tomarmos consciência.
Resgatar essas dores passadas é uma forma de reelaborar os sentimentos e emoções com um olhar diferente e assim, seja possível vincular-se as vivências dolorosas de uma maneira mais saudável e que não interfiram no dia-a-dia de forma negativa.
Portanto, quando o outro tocar sua ferida, agradeça, pois este mostrou a você a sua própria sombra!